Apontados como segurança, gerente e chefe do tráfico são indiciados por mortes de PMs em Porto
Sexta, 05 de Julho de 2019 às 18:00
Um beco sinuoso da Vila Maria da Conceição, na zona leste de Porto Alegre, transformou-se numa armadilha para os policiais militares que esperavam surpreender criminosos na noite de 26 de junho. No inquérito encaminhado pela Polícia Civil nesta sexta-feira (5) à Justiça, três homens foram indiciados pelas mortes dos soldados da Brigada Militar Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos. Os três são apontados como segurança, gerente e líder do tráfico na região do Beco da Bruxinha.
Neste trajeto estreito, cercado de casinhas sobrepostas com tijolos à vista, que leva à Rua Paulino Azurenha, um trio de policiais do 19º Batalhão de Polícia Militar aguardava naquela noite, enquanto outros quatro circulavam do lado de fora do beco. Segundo o delegado Guilherme Gerhardt, ao perceberem a presença da polícia, Lucas Iago da Rosa, 19 anos, e o pai Cléber Josué da Rosa, 44 anos, correram para dentro do beco. Os dois estavam armados com revólveres calibre 38.
— Quando os criminosos fugiram da guarnição que estava fora, acabaram cruzando com a que estava dentro — relata o delegado.
Entre os três PMs escondidos no trajeto escuro estavam o soldado Feijó e o soldado Rodrigo (nome “de guerra” usado pelos policiais). Os criminosos teriam corrido para dentro do pátio de uma casa no beco. Foi neste momento que Feijó se aproximou e teria forçado a entrada da porta. Ali foi alvejado com um tiro no rosto e caiu. Enquanto tentava acudir o colega, Rodrigo também foi atingido. Eles seriam socorridos, mas acabariam não resistindo.
— Estava escuro, os policiais estavam em desvantagem — relata Gerhardt.
A finalização do caso foi apresentada em coletiva de imprensa no Palácio da Polícia, com a participação da chefe da Polícia Civil, delegado Nadine Anflor, do diretor da Divisão de Homicídios, delegado Eibert Moreira, da diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegada Vanessa Pitrez. A conclusão do inquérito diverge da informação divulgada logo após o crime de que os tiros teriam partido de cima do telhado. Para o delegado, os disparos foram efetuados de dentro da casa. Após alvejar os PMs, Cléber teria forçado o telhado de dentro para fora e corrido para tentar escapar.
Enquanto isso, do lado de fora, o terceiro PM pedia apoio dos colegas e tentava atingir os criminosos, que ainda atiravam na escuridão. Quando o reforço ingressou pelo beco, Lucas se entregou e Cléber foi baleado. Ele foi socorrido, mas também não resistiu. Para Gerhardt, o local explica o fato dos PMs terem cogitado que os tiros partiram do alto:
— Era tão escuro no momento, que eles não sabiam exatamente de onde partiram os disparos — relata o delegado.
Ainda segundo Gerhardt, os tiros partiram dos dois revólveres apreendidos no local. Além de Lucas, também foram indiciados Rogério Duarte Nascente, 32 anos, o Rogerinho, apontado como gerente no local, e Vladimir Cardoso Soares, 49 anos, o Xu, que seria o líder do tráfico:
— Logo após esse evento, o Rogerinho foi preso com carregadores, munição e droga. E o Xu está foragido. Sabe-se que ele é o cabeça da Paulino Azurenha, daquele local. Por isso, também está sendo responsabilizado — disse o delegado. — Não indiciamos somente o executor, mas conseguimos responsabilizar toda a cadeia criminosa — completou.
Os três respondem pelo duplo homicídio duplamente qualificado, devido à motivação e o fato das vítimas serem policiais militares. Além disso, foram indiciados pelo fato de fazerem parte de organização criminosa. Lucas ainda responde pelo porte ilegal de arma de fogo:
— Conseguimos estabelecer a função de cada um dentro dessa organização. Eles (Lucas e Cléber) estavam fazendo a segurança da boca para o Rogerinho. A motivação do crime foi assegurar o tráfico no local e impedir a apreensão de drogas e armas.
Tanto Lucas, como Rogerinho, ao serem presos, permaneceram em silêncio quando questionados sobre os crimes.
Depoimentos
Ao longo do inquérito, dois depoimentos foram essenciais para a polícia compreender como aconteceram as mortes e o papel dos suspeitos. Um deles foi o do policial militar que estava junto dos colegas quando eles foram alvejados.
— Eles (criminosos) passaram armados e a guarnição tentou abordagem. Receberam o primeiro tiro e o PM, ao acudir o colega, também foi morto. Esse terceiro chegou a atirar, mas não acertou os criminosos — explica o delegado.
Outro relato que contribuiu para a investigação foi o depoimento da companheira de Cléber. Segundo o delegado, ela confirmou que o marido e o enteado atuavam para o tráfico. Ela também relatou que Cléber havia usado cocaína e álcool antes do confronto.
— Ela confirmou que estavam armados e fazendo a segurança da boca. Foi um depoimento até inesperado — relata o delegado.
Para o delegado, um contexto levou à reação violenta dos criminosos: o uso de entorpecentes, o fato de serem os seguranças do local e estarem em área conflagrada:
— Não é incomum os policiais serem recebidos a tiros em locais de tráfico. O que é incomum é dois morrerem. Nesse caso, infelizmente aconteceu.
Os indiciados
Lucas Iago da Rosa, 19 anos
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado, integrar organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo.
Situação: preso em flagrante após o crime. Segundo a polícia, era segurança do tráfico no Beco da Bruxinha, junto do pai, Cléber Josué da Rosa, 44 anos, morto no confronto com os PMs. Teria disparado contra os policiais. Cumpria pena no regime semiaberto por tráfico de drogas e estava sem monitoramento devido à falta de tornozeleiras eletrônicas.
Rogério Duarte Nascente, 32 anos, o Rogerinho
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado e integrar organização criminosa.
Situação: preso na madrugada após o crime. Conforme a polícia, era gerente do ponto de venda de drogas no Beco da Bruxinha. Embora não tenha participado do tiroteio, investigação aponta que mortes ocorreram para proteger a boca de fumo administrada por ele.
Vladimir Cardoso Soares, 49 anos, o Xu
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado e integrar organização criminosa.
Situação: foragido desde maio de 2018. Tem mandado de prisão preventiva em razão do assassinato de um adolescente, de 16 anos, na Rua Paulino Azurenha. Foi um dos três a assumir o controle do tráfico da Conceição, após a prisão de Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, em 2010. A disputa gerou uma sequência de mortes na região no período.
Neste trajeto estreito, cercado de casinhas sobrepostas com tijolos à vista, que leva à Rua Paulino Azurenha, um trio de policiais do 19º Batalhão de Polícia Militar aguardava naquela noite, enquanto outros quatro circulavam do lado de fora do beco. Segundo o delegado Guilherme Gerhardt, ao perceberem a presença da polícia, Lucas Iago da Rosa, 19 anos, e o pai Cléber Josué da Rosa, 44 anos, correram para dentro do beco. Os dois estavam armados com revólveres calibre 38.
— Quando os criminosos fugiram da guarnição que estava fora, acabaram cruzando com a que estava dentro — relata o delegado.
Entre os três PMs escondidos no trajeto escuro estavam o soldado Feijó e o soldado Rodrigo (nome “de guerra” usado pelos policiais). Os criminosos teriam corrido para dentro do pátio de uma casa no beco. Foi neste momento que Feijó se aproximou e teria forçado a entrada da porta. Ali foi alvejado com um tiro no rosto e caiu. Enquanto tentava acudir o colega, Rodrigo também foi atingido. Eles seriam socorridos, mas acabariam não resistindo.
— Estava escuro, os policiais estavam em desvantagem — relata Gerhardt.
A finalização do caso foi apresentada em coletiva de imprensa no Palácio da Polícia, com a participação da chefe da Polícia Civil, delegado Nadine Anflor, do diretor da Divisão de Homicídios, delegado Eibert Moreira, da diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegada Vanessa Pitrez. A conclusão do inquérito diverge da informação divulgada logo após o crime de que os tiros teriam partido de cima do telhado. Para o delegado, os disparos foram efetuados de dentro da casa. Após alvejar os PMs, Cléber teria forçado o telhado de dentro para fora e corrido para tentar escapar.
Enquanto isso, do lado de fora, o terceiro PM pedia apoio dos colegas e tentava atingir os criminosos, que ainda atiravam na escuridão. Quando o reforço ingressou pelo beco, Lucas se entregou e Cléber foi baleado. Ele foi socorrido, mas também não resistiu. Para Gerhardt, o local explica o fato dos PMs terem cogitado que os tiros partiram do alto:
— Era tão escuro no momento, que eles não sabiam exatamente de onde partiram os disparos — relata o delegado.
Ainda segundo Gerhardt, os tiros partiram dos dois revólveres apreendidos no local. Além de Lucas, também foram indiciados Rogério Duarte Nascente, 32 anos, o Rogerinho, apontado como gerente no local, e Vladimir Cardoso Soares, 49 anos, o Xu, que seria o líder do tráfico:
— Logo após esse evento, o Rogerinho foi preso com carregadores, munição e droga. E o Xu está foragido. Sabe-se que ele é o cabeça da Paulino Azurenha, daquele local. Por isso, também está sendo responsabilizado — disse o delegado. — Não indiciamos somente o executor, mas conseguimos responsabilizar toda a cadeia criminosa — completou.
Os três respondem pelo duplo homicídio duplamente qualificado, devido à motivação e o fato das vítimas serem policiais militares. Além disso, foram indiciados pelo fato de fazerem parte de organização criminosa. Lucas ainda responde pelo porte ilegal de arma de fogo:
— Conseguimos estabelecer a função de cada um dentro dessa organização. Eles (Lucas e Cléber) estavam fazendo a segurança da boca para o Rogerinho. A motivação do crime foi assegurar o tráfico no local e impedir a apreensão de drogas e armas.
Tanto Lucas, como Rogerinho, ao serem presos, permaneceram em silêncio quando questionados sobre os crimes.
Depoimentos
Ao longo do inquérito, dois depoimentos foram essenciais para a polícia compreender como aconteceram as mortes e o papel dos suspeitos. Um deles foi o do policial militar que estava junto dos colegas quando eles foram alvejados.
— Eles (criminosos) passaram armados e a guarnição tentou abordagem. Receberam o primeiro tiro e o PM, ao acudir o colega, também foi morto. Esse terceiro chegou a atirar, mas não acertou os criminosos — explica o delegado.
Outro relato que contribuiu para a investigação foi o depoimento da companheira de Cléber. Segundo o delegado, ela confirmou que o marido e o enteado atuavam para o tráfico. Ela também relatou que Cléber havia usado cocaína e álcool antes do confronto.
— Ela confirmou que estavam armados e fazendo a segurança da boca. Foi um depoimento até inesperado — relata o delegado.
Para o delegado, um contexto levou à reação violenta dos criminosos: o uso de entorpecentes, o fato de serem os seguranças do local e estarem em área conflagrada:
— Não é incomum os policiais serem recebidos a tiros em locais de tráfico. O que é incomum é dois morrerem. Nesse caso, infelizmente aconteceu.
Os indiciados
Lucas Iago da Rosa, 19 anos
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado, integrar organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo.
Situação: preso em flagrante após o crime. Segundo a polícia, era segurança do tráfico no Beco da Bruxinha, junto do pai, Cléber Josué da Rosa, 44 anos, morto no confronto com os PMs. Teria disparado contra os policiais. Cumpria pena no regime semiaberto por tráfico de drogas e estava sem monitoramento devido à falta de tornozeleiras eletrônicas.
Rogério Duarte Nascente, 32 anos, o Rogerinho
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado e integrar organização criminosa.
Situação: preso na madrugada após o crime. Conforme a polícia, era gerente do ponto de venda de drogas no Beco da Bruxinha. Embora não tenha participado do tiroteio, investigação aponta que mortes ocorreram para proteger a boca de fumo administrada por ele.
Vladimir Cardoso Soares, 49 anos, o Xu
Crimes: duplo homicídio duplamente qualificado e integrar organização criminosa.
Situação: foragido desde maio de 2018. Tem mandado de prisão preventiva em razão do assassinato de um adolescente, de 16 anos, na Rua Paulino Azurenha. Foi um dos três a assumir o controle do tráfico da Conceição, após a prisão de Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, em 2010. A disputa gerou uma sequência de mortes na região no período.
Fonte: Observador Regional
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