Inocente 32 dias preso e para a Justiça, ele não merece reparação
Sábado, 12 de Setembro de 2020 às 09:32

"Faça chuva, faça sol, faça até dar certo. Me ajude a realizar o sonho de ter meu próprio negócio". A mensagem, acompanhada por doze balas e custando apenas R$ 2,00 reais, é vendida diariamente por Wilson Alberto Rosa, o Chandelle, em um farol em Moema, há vinte anos, mas com uma interrupção de 32 dias em 2017. Enquanto trabalhava, Wilson foi abordado por um policial civil, que o acusava de ter roubado a sua mulher, seis meses antes.
Daí em diante Wilson viveu um pesadelo. A incerteza sobre seu futuro, a preocupação com a família, a mulher e os três filhos, um deles com deficiência, o cotidiano de acusações, torturas e procedimentos ilegais irregulares. O encarceramento injusto. Banho frio, comida azeda e o camburão quente e abafado que o levava de um lado para o outro, de DP em DP. Ao se aproximar de lugares ermos, o medo da morte. Ser chamado de ladrão.
Wilson conta que sempre batalhou muito. Perdeu o pai e a mãe cedo, morou embaixo da ponte, passou fome. Desde os dezessete anos, ele constrói uma família com sua mulher, Leandra da Silva, que o acompanha na entrevista. Mas que nunca imaginou chegar numa situação dessa. Bem-humorado, animado, ele demonstra entusiasmo pelo trabalho, pelo grupo de dança e pelo time de futebol que faz parte. Há dois anos, vive num condomínio do Minha Casa, Minha Vida, que lhe deu residência fixa. Mas já perdeu o barraco numa tempestade.
"As pessoas podem errar. Mas tem que admitir, pedir desculpa. Mas o policial nunca falou nada. E olha onde eu moro na periferia. Se a polícia chegar e pegar eu de noite aí é duro. Com meu nome sujo. Como eu vou explicar que fui confundido? Você acha que vão acreditar? Com passagem? negão. Já vi a polícia forjar um monte de gente. Imagine eu agora com passagem. Nunca roubei ninguém sempre andei certo, estudei trabalho agora meu nome tá lá. Ó a situação", lamenta.
A prisão
Daí por diante Wilson foi encarado como criminoso. Teve a prisão preventiva (sem prazo) decretada pelo delegado Alfredo Pinto de Souza. Negou o crime desde o começo, palavra insuficiente frente à declaração do investigador e de sua esposa.
Um mês e meio depois da prisão, em fevereiro de 2017, a Justiça não só mandou soltar Chandelle como o considerou inocente da acusação por não haver provas.
Porém, em fevereiro de 2018, um ano após ficar preso, a Justiça deu razão ao Estado de São Paulo em processo movido pela defesa de Wilson Rosa. O pedido era de R$ 97.200,00 por danos morais. A ação acabou negada. Segundo a juíza Alexandra Fuchs de Araújo, da 6ª Vara de Fazenda Pública, o Estado não atuou de forma intencional para prendê-lo. Considera toda a ação das polícias e dos juízes como dentro da lei.
"Para o Estado foi normal eles terem me prendido? Tudo certo? O negócio não muda, não", lamenta Chandelle.
"Há apenas um inconformismo que, por si só, não enseja indenização", sustenta Alexandra, que, além de não ver erro, ainda determinou o pagamento de custas a Chandelle. O valor seria de 10% da causa (R$ 9.720,00), mas Wilson não terá de pagar pois recebeu gratuidade no processo.
"Imagina ele ficar preso de forma injusta e ainda ter e pagar por isso? Seria um absurdo", resume o advogado de Wilson, Sandro Ferreira Araújo, que garante que vai recorrer da decisão.
Foto: Pedro Ribeiro Nogueira/Pavio
Daí em diante Wilson viveu um pesadelo. A incerteza sobre seu futuro, a preocupação com a família, a mulher e os três filhos, um deles com deficiência, o cotidiano de acusações, torturas e procedimentos ilegais irregulares. O encarceramento injusto. Banho frio, comida azeda e o camburão quente e abafado que o levava de um lado para o outro, de DP em DP. Ao se aproximar de lugares ermos, o medo da morte. Ser chamado de ladrão.
Wilson conta que sempre batalhou muito. Perdeu o pai e a mãe cedo, morou embaixo da ponte, passou fome. Desde os dezessete anos, ele constrói uma família com sua mulher, Leandra da Silva, que o acompanha na entrevista. Mas que nunca imaginou chegar numa situação dessa. Bem-humorado, animado, ele demonstra entusiasmo pelo trabalho, pelo grupo de dança e pelo time de futebol que faz parte. Há dois anos, vive num condomínio do Minha Casa, Minha Vida, que lhe deu residência fixa. Mas já perdeu o barraco numa tempestade.
"As pessoas podem errar. Mas tem que admitir, pedir desculpa. Mas o policial nunca falou nada. E olha onde eu moro na periferia. Se a polícia chegar e pegar eu de noite aí é duro. Com meu nome sujo. Como eu vou explicar que fui confundido? Você acha que vão acreditar? Com passagem? negão. Já vi a polícia forjar um monte de gente. Imagine eu agora com passagem. Nunca roubei ninguém sempre andei certo, estudei trabalho agora meu nome tá lá. Ó a situação", lamenta.
A prisão
Daí por diante Wilson foi encarado como criminoso. Teve a prisão preventiva (sem prazo) decretada pelo delegado Alfredo Pinto de Souza. Negou o crime desde o começo, palavra insuficiente frente à declaração do investigador e de sua esposa.
Um mês e meio depois da prisão, em fevereiro de 2017, a Justiça não só mandou soltar Chandelle como o considerou inocente da acusação por não haver provas.
Porém, em fevereiro de 2018, um ano após ficar preso, a Justiça deu razão ao Estado de São Paulo em processo movido pela defesa de Wilson Rosa. O pedido era de R$ 97.200,00 por danos morais. A ação acabou negada. Segundo a juíza Alexandra Fuchs de Araújo, da 6ª Vara de Fazenda Pública, o Estado não atuou de forma intencional para prendê-lo. Considera toda a ação das polícias e dos juízes como dentro da lei.
"Para o Estado foi normal eles terem me prendido? Tudo certo? O negócio não muda, não", lamenta Chandelle.
"Há apenas um inconformismo que, por si só, não enseja indenização", sustenta Alexandra, que, além de não ver erro, ainda determinou o pagamento de custas a Chandelle. O valor seria de 10% da causa (R$ 9.720,00), mas Wilson não terá de pagar pois recebeu gratuidade no processo.
"Imagina ele ficar preso de forma injusta e ainda ter e pagar por isso? Seria um absurdo", resume o advogado de Wilson, Sandro Ferreira Araújo, que garante que vai recorrer da decisão.
Foto: Pedro Ribeiro Nogueira/Pavio
Fonte: Ponte Jornalismo | Yahoo Notícias
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