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Campo Bom: Tanque principal do hospital ficou sem oxigênio e ar reserva não chegou a pacientes
Segunda, 10 de Maio de 2021 às 07:40
Conclusão aponta que mais de um fator contribuiu para o problema em 19 de março.
O Hospital Lauro Reus, de Campo Bom, ficou sem oxigênio no tanque principal na manhã de 19 de março, quando seis pacientes com covid-19 que estavam entubados morreram. A confirmação consta do relatório de uma auditoria feita pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) e já encaminhada ao Ministério Público e aos responsáveis pelo hospital.


A conclusão apurada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) aponta que o problema no Lauro Reus foi "multifatorial", ou seja, mais de um fator contribuiu para que o tanque principal de ar esvaziasse sem ser reposto e para que o sistema de reserva não fosse acionado imediatamente. Estão na lista desses fatores: a falta de treinamento adequado para agir nesse tipo de situação, falhas na comunicação interna e no uso do Plano de Operação Padrão justamente para casos de emergência.

Também está registrado no sistema de telemetria que o nível de ar do tanque principal caiu abaixo de 30% já no dia 18 e, segundo protocolos de segurança, quando isso é registrado, é preciso fazer o reabastecimento, o que não ocorreu. Somente depois do incidente é que foi feita a reposição no tanque principal.

A SES aguarda resposta da direção do Lauro Reus, com esclarecimentos sobre os problemas levantados, para dar a auditoria como concluída. O hospital é administrado pela Associação Beneficente São Miguel (ABSM). Em abril, o presidente da ABSM, o oncologista Rafael França, já havia admitido ao GDI que a Air Liquide teria ficado de reabastecer oxigênio às 6h de 19 de março, mas não o fez. Às 8h13min, segundo França, teria começado o problema que impediu que pacientes da covid-19 entubados recebessem o ar.

A apuração da SES, com base em informações de telemetria da empresa fornecedora de oxigênio, a Air Liquide, mostrou que faltou oxigênio no tanque principal que abastece o hospital. E que o sistema de backup, que são as baterias reservas, demorou a funcionar.

Este é o segundo ponto de falhas identificado pela auditoria: funcionários do hospital não tinham treinamento para acionar a reserva. Havia oxigênio estocado, mas não foi aproveitado imediatamente. Isso explicaria o motivo de cilindros de ar de fora do hospital terem sido buscados com urgência naquela manhã.

— A ocorrência foi multifatorial. Provavelmente, foi por várias dessas razões que ocorreram falta de oxigênio no cilindro principal e demora de ar existente no backup chegar aos pacientes — diz Bruno Naundorf, diretor do Departamento de Auditoria do Sistema Único de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde.

Naundorf destacou que o trabalho da auditoria é focado em correção de procedimentos para todo o sistema hospitalar, como ocorre em casos de queda de aviões, por exemplo:

— Quando cai um avião, é por uma série de fatores somados e são criados novos mecanismos de prevenção. Estamos trabalhando em recomendações para outros hospitais, para que situações não se repitam. Esse é nosso papel.

A auditoria foi feita com visitas in loco, entrevistas de profissionais do Lauro Reus e acompanhamento de procedimentos, além da requisição de documentos a outros órgãos que estejam fazendo apuração, ao hospital e à Air Liquide. O Lauro Reus e a Air Liquide não entregaram tudo que foi solicitado. Por isso, a SES espera resposta do Lauro Reus para encerrar seu relatório.

Contrapontos

O que diz a Air Liquide:

"Sobre possíveis falhas na distribuição de oxigênio do Hospital Lauro Reus, em Campo Bom (RS):

No dia 19 de março, a Air Liquide foi acionada pelo Hospital Lauro Reus para fornecer suporte técnico e auxiliar na ativação do sistema de backup de oxigênio.

A equipe da Air Liquide prontamente ofereceu suporte remoto para a equipe de manutenção que estava no hospital. Além disso, a Air Liquide forneceu ao hospital novos cilindros de oxigênio para complementar os reservas, que já estavam cheios e em operação.

Atualmente, os fatos estão sendo investigados. A Air Liquide continua colaborando com o governo local, autoridades da saúde e com as investigações em questão.

O hospital já declarou publicamente que, durante o incidente, não ficou sem abastecimento de oxigênio. A central backup de oxigênio do hospital tinha um conjunto de cilindros reserva à disposição para situações emergenciais.

A Air Liquide Brasil tem empenhado todos os seus esforços logísticos, operacionais e de produção para garantir o abastecimento de oxigênio a todos os hospitais que atende em diferentes cidades do País, em consonância com a sua prática de proteger vidas vulneráveis durante a pandemia.

Certos de sua compreensão quanto às informações expostas até aqui, a Air Liquide Brasil agradece a atenção e permanece à disposição."

O que diz Rafael França, presidente da ABSM, que é gestora do Hospital Lauro Reus:

"Analisaremos os dados, para que, eventualmente, possamos nos manifestar. Estamos bem tranquilos, temos acompanhado os resultados do inquérito."
Fonte: ADRIANA IRION | GAÚCHA ZH, Foto: ASCOM Hospital Lauro Reus | Divulgação
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